Diários Noturnos

Diários Noturnos

7 de junho de 2015

Eu te vi pelo buraco da agulha


Hoje eu costurei
três buracos
que se abriram
na meia-calça,
depois a vesti
e passei um batom
de vampiresco tom.

Eu não engano
a ninguém:
prefiro embelezar
o velho
do que adquirir
porção nova
das coisas.

Entretanto,
tomei nota
de um detalhe
que entorpeceu
a minha filosofia:

É tarefa
quase impossível
atar o nó
em cima
do outro nó
que já foi dado
na linha passada
em fina agulha.

Por isso é que não posso,
sequer consigo,
te amar duas vezes,
ou de dois diferentes jeitos,
nessa vida.

Nem se eu fosse marinheira,
teria saúde e paciência
para tentar tanto
que um nó se atasse
a outro nó de nós,
mas eu te vi
pelo buraco da agulha.

Quem sabe com o tempo,
arranjaria ardilosa sapiência
para trançar em ritmo corriqueiro
os assuntos antigos do coração.

Ou tomaria
vergonha na cara
para andar
de meia-calça furada
pelas ruas
que já pisamos,
juntos,
um dia.

Apartamento 830, 5 de Junho de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem (sol) eu:

Minha foto
'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

Seguidores