Diários Noturnos

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18 de novembro de 2014

TREZE ANOS EM TRÊS TEMPOS

Os algozes jogavam dados na mesa do tempo.
Quem sabe o que apostavam?
(Cecília Meireles)

I
Infância

Se a menina fosse feita
de farinha integral,
não perderia
a integridade anímica.

- Ninguém me confeitou,
disse em tom
de quem está
em guerra interestelar.

Sem ouvir o troco
nem sentir uma faísca sequer,
pôs a cereja do bolo
no umbigo
como quem dança
na pulsação da corda-bamba.

II
 Idade da razão

Quem mais faz
a si mesmo
é quem se desfaz
dos próprios defeitos
para criar outros
com mais trejeitos.

Quem mais faz
a si mesmo
é quem dá de ombros
à desfeita alheia
para satisfazer-se
ao capricho de seu bel-prazer.

III
Florescimento

A sina da menina
com a idade da razão
é temer passar toda
a vida sem sair do forno.

Tão cedo encontrará
,
dentro do próprio umbigo
,
um mapa de linhas sinuosas
com o segredo:

Definir-se pronta
é vestir-se de foice.

Quando cair-lhe a ficha
da crueldade do medo,
descobrir-se-á tão livre
que ficará nua, e parada,
em frente ao espelho.

Aos treze, entorpecida 
após vislumbrar-se
fora do mundo,
a menina quedou-se
,
integralmente
,
úmida.



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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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