Diários Noturnos

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19 de março de 2011

Incêndio

Dedilho o vestido do calcanhar, passando pelos joelhos arranhados de - oh senhor! - tanta queda, prejuízo & deslize, tocando c’os dedos as minhas coxas, unindo todo o tecido na palma da vagina, até envolver, por fim, o desequilíbrio da cintura. Queimo, ao franzir a testa em piedade à coragem, o cigarro no umbigo. Defloro os lábios num gozo torpe para rasgar a minha individualidade exagerada.

Te repito que procures por mim somente se, como uma febre num doente terminal, supores a tua cura na minha saliva de gelo. Do contrário, nega quaisquer que sejam as vírgulas que, como recém-nascidos, chorarem a minha prosa para alimentar a tua mentira tão argumentada. Não consigo alcançar em imaginação o momento em que deixará de ser o advogado do diabo. Vendi a minh’alma sem ao menos perceber a negociação. Doei meu sêmen de mulher na ingenuidade tosca de fantasiar o útero do amor em ti. Tu és um vento pervertido que assopra os vãos de pernas femininas. Eu sou a queima da feminilidade. Eu sou o incêndio, a fumaça, as cinzas. Atenta para o fato de que há em mim a concatenação de fenômenos, há em mim um clímax. Em ti, coisa de asas, não há começo, não há meio, não há fim. Tu és morno. Para de assoprar e me escuta, qu’eu vou te revelar: Para de destelhar e me contempla, qu’eu vou te contar: Para de confundir as marés e me fisga, qu’eu vou te declarar: Para de assoviar e me repara, qu’eu vou te escancarar:

Todo romance clássico é conduzido por uma linearidade de capítulos. Todo quadro de museu foi antes pincel, tinta e movimento de mãos. Toda criança foi orgasmo, trinta & tantas semanas in ventre e choro.

Tu precisas fincar teus pés, oh vento indomável. (os vestígios da tua dança são os meus olhos empoeirados) Tu necessitas estancar p’eu te tocar. (a tua existência aérea amputa os meus pulmões) Tu deves sofrer a alquimia da humanidade e então sangrar pr’eu te lamber. (teus assovios silenciam o corredor da minha língua) Tu precisas te transformar em troço sólido para que eu nutra o oco do estômago. (tua ousadia, tua efemeridade, tua imunidade guardam em cárcere o meu romantismo) Te grito! Sejas carne pr’eu te nomear:

-- Meu Homem.

Um comentário:

  1. eu sou teu fã! só tenho a agradecer por esses momentos em que me ponho a ler tua poesia tão apaixonada. e reforço, me coloque a par das tuas escritas, mesmo as não publicadas no blog: que seja por email, que seja por papel, que seja por voz
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    esse é o típico texto que vou reler e reler e etcétera!

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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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