Diários Noturnos

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4 de maio de 2010

Solilóquio com ruídos entreolhados

Ela o assalta co'as retinas.

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Ele boceja com demora.

(Durante o dia, qual dos pensamentos espirais mais se repete? Tu preferes manhãs nubladas, de sol, de frio & vento, de sol & pingos? Ou as não-manhãs? Andar no asfalto que sobra da fileira dos carros, na calçada da direita ou esquerda das ruas ou no equilíbrio dos paralelepípedos? Tu contas as janelas abertas ou o número das casas & edifícios? Confias no semáforo ou segues o fluxo dos pedestres? Costumas cambalear em frente às vitrines de sebos ou em frente aos balcões de botequim? Ou permanece desistente no ponto equidistante entre ambos, respirando cigarros ao conferir a indecisão? O que te faz eriçar os pêlos? Medo de amar ou pavor de ser surpreendido? Na cabeceira, poesia ou prosa? Água do chuveiro com Bitous ou Rolim Estones? No bolso do jeans carregas isqueiro ou fósforos? Desconfias dos sorrisos ou das lágrimas? Preferes a decisão a partir d'uma encruzilhada ou rumar instintivamente de impulso em impul...)

O sapato esquerdo d'Ele retarda o tempo num tango de agonia.

Ela engasga uma dor que vem do ventre:

--- Se o meu silêncio fosse sólido, cuidadosamente o encaixaria no vão das tuas mãos quando assim, unidas.

--- (...) - Ele desvencilha as amarras feitas c'os dedos & envolve grotescamente o copo de uísque co'a mão direita.

Ela foge. Embora ainda permanecesse sentada, ela estava fugindo.

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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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